a Soul to Squeeze - Capítulo 5: Me And My Friends

Primeiramente, eu gostaria de agradecer: Pascalle e Maria, que me deram as
informações que eu requisitei.

Em segundo lugar, gostaria de agradecer a todos os fãs do Red Hot Chili Peppers no
mundo e em particular, àqueles que estiveram comigo nessa aventura que já
vai fazer anos, ao Jason, Yvette, Michelle, Zoe a todos os meus amigos do
The Red Hot Chili Peppers Forum/Ezboard e do Forum One Hot Globe.

E em último, mas não menos importante, meu editor, o grande Ardnac e Ken.

NOTA DO AUTOR:

Essa biografia é baseada principalmente nas entrevistas e nos fatos que eu li na imprensa, e na minha opinião, é realmente confiável; Eu apenas resumi as coisas que eu ouvi dele mesmo ou de suas pessoas próximas. É claro que algumas coisas podem ser imprecisas, mas nada foi inventado. Enquanto estiver lendo, você vai perceber que eu escrevi alguns diálogos entre Anthony e Flea, Anthony e Hillel, e outras pessoas. É óbvio que os diálogos foram criados por mim, porque mesmo que eu estivesse lá, eu precisaria no mínimo de um gravador para reproduzir tudo fielmente. No entanto, coloquei esses diálogos apenas para dar mais luz às histórias que todos nós conhecemos (você verá que os diálogos são inseridos naqueles pontos que nós já conhecemos da história). E essas conversas também são baseadas em fatos reais e escritas baseadas no estilo típico de expressão das pessoas envolvidas. Dave Thompson também colocou alguns diálogos baseados em sua intuição, no seu livro sobre o Red Hot Chili Peppers. Eu apenas segui o mesmo exemplo.

Penny Lane

Capítulo 5: Me And My Friends

O produtor escolhido pelo Red Hot Chili Peppers depois de várias entrevistas foi Michael Bainhorn, que já havia trabalhado com Nona Hendrix e Herbie Hancock. Beinhorn conheceu a banda e sentiu boas vibrações. O fato de dois deles estarem drogados não o assustou.

No dia 1º de abril de 1987, Hillel escreveu: "Beinhorn está muito entusiasmado como todos". O produtor era conhecido por sua disciplina quase militar, e na época, mudou-se para uma casa perto de Anthony, podendo assim, controlá-lo de perto. Quando estávamos trabalhando com George Clinton, gastávamos muito tempo relaxando e nos divertindo.
Com Beinhorn foi muito diferente. Nós trabalhamos duro", disse Flea.
Anthony foi mais direto: "Beinhorn é muito retentivo", disse, e aquele era aparentemente o pior insulto que ele poderia imaginar.

A banda tinha finalizado 5 músicas, mas para Beinhorn, isso não era o bastante.
Aqueles garotos precisavam de alguém para chutar seus trazeiros!

"Malditas drogas!", Hillel continuou escrevendo, "Música é o meu destino... Eu rezo para que Anthony volte à alma cósmica, e um novo amor e respeito irão acontecer".
Nos primeiros meses de 1987, estava claro para todos que o Anthony feliz, recuperado das drogas, não existia mais, e ele estava novamente dependente.
"Eu não reclamo da nossa mútua procura por drogas", meditou Hillel sobre seu melhor amigo, "a eu não ponho os dedos, mas comigo mesmo, eu acho hipocrisia".

Anthony tinha terminado o namoro com Jennifer, mas ela continuou sendo uma grande amiga, e o ajudava tanto no esforço para ficar limpo das drogas, quanto no esforço para encontrar as melhores substâncias. Hillel também terminou com Maggie.

Aquele verão foi passado quase todo no estúdio, trabalhando feito loucos na nova gravação, e todos sabiam que ela era crucial para a banda. Quando o "The Uplift Mofo Party Plan" completou-se, a banda começou a celebrar. "Nós estávamos certos de que nossa gravação estava tão boa", Anthony disse, "Eu especialmente, abençoado porque pouco tempo antes eu tinha sido posto para fora da banda por causa do meu vício em drogas. Foi um tempo de celebração". "The Uplift Mofo Party Plan" foi lançado em setembro de 1987, com o single "Fight Like A Brave". Um vídeo engraçado foi gravado, e se não muito exibido na MTV, pelo menos, foi ao ar muito mais que os seus antecessores. E em poucos dias, a turnê começou novamente.

Em 13 de outubro, Hillel escreveu: "No dia 21 nós partiremos para uma tour de 2 meses, com 3 dias de folga... Faith No More vai abrir... Nós viajamos em uma grande casa móvel... Eu sinto, em algum jeito, que meu tempo está limitado".

Anthony tinha certeza que estava amando novamente. Era uma garota, ele gostou muito dela. Anthony a conheceu em uma festa, depois do lançamento do "Uplift", e desde então, não parava de pensar nela.

"Droga, Anthony, ela tem 16 anos", disse um amigo.
"E daí? Ela faz sexo como se fosse 10 anos mais velha. Venha, olhe para Flea e Loesha, ela também é uma adolescente e eles são felizes. E também, para sermos mais corretos, Ione tem 17 anos".

Ione, nascida em Londres e naturalizada americana, era uma promissora atriz e também era uma filha famosa. Seu pai, era o popular escocês, Donovan, clone do Bob Dylan, sua mãe, Linda, era uma conhecida ex-groupie dos faqbulosos anos 60. Com lindos olhos verdes, Ione não era linda, mas ainda assim era muito bonita. Ela tinha aquele tipo de rosto inocente, o que a ajudou a conseguir alguns importantes papéis em filmes do final dos anos 80 e início dos 90.
Aquele rosto inocente era apenas aparência. aos 17 anos, Ione não era uma viciada em drogas, mas consumia maconha, álcool, freqüentava festas, tinha relações sexuais comvários jovens atores e músicos, e também gostava de algumas aventuras homossexuais. Mas Anthony estava muito atraído. Ele continuava procurando por ela e mandando buquês de flores. Precisava-se de ponderar muito sobre isso? Em poucas semanas depois de seu primeiro encontro, Ione mudou-se para o apartamento de Anthony, levando seus filmes favoritos e seu cão Ashley.

Ione sabia sobre o vício de anthony em heroína, e não pensava que poderia "salvá-lo com seu amor". Mas ela não queria se envolver. Tinha uma brilhante carreira pala frente e não queria arruiná-la por causa das insanidades do seu novo namorado. Quem não estava convencida disso era sua mãe. Linda não era uma mulher comum. Antes de casar-se com Donovan, no final dos anos 60, ela teve uma longa relação com Brian Jones, o místico guitarrista dos Rolling Stones, e também lhe deu um filho. Em toda sua vida, ela havia conhecido mais viciados do que todos os centros de reabilitação de Los Angeles. Agora, isso estava acontecendo com sua filha.
Linda sabia muito bem sobre a atração que os rockstars cheios de drogas tinham pelas garotas de 17 anos. Mas aqueles não eram os anos 60, e ela não era mais aquela garota. A primeira coisa que Linda quis de Anthony era que ele fizesse um novo teste de HIV.
E se o resultado fosse HIV positivo?

Anthony estava tão apaixonado que aceitou, embora tivesse de voltar para sua adorada acupuntura, pra conter sua aflição. Mas ele teve sorte novamente. seu sistema imunológico continuava bem. Mas em todo caso, alguns dias depois, Anthony e sua banda partiram novamente, rumo a uma massiva turnê pela América e todos os outros problemas foram deixados de lado.

Em janeiro de 1988, Hillel escreveu: A turnê pela América durou de outubro a dezembro: dois meses, extendidos por mais uma semana no Noroeste, incluindo Vancouver, na festa de ano novo de 1988. Indo para a Europa de 27 de janeiro a 3 de fevereiro. Sobre começar um novo estado livre de drogas em minha vida... Estou geralmente fazendo bons negócios. Voltando aos bons passos com Flea".

Não era segredo para ninguém que, nos últimos meses, Flea e Hillel haviam tido duras discussões. E a razão pela qual Flea tanto discutia com um de seus melhores amigos nos últimos dez anos, era simples: Flea apenas abriu seus olhos. E quando abriu, se sentiu um grande estúpido. Ele só descarregava no Anthony - não que ele não merecesse isso! - enquanto Hillel se partia em pedaçoe em sua frente, e ele, cego, não percebia. Hillel dificilmente completava os shows, estava completamente fora de si, sempre tentando escapar da rotina da turnê em busca de mais drogas. Anthony não estava muito melhor. Mas Flea sabia que Anthony era mais duro e isso o ajudava a lutar contra isso. Hillel era muito frágil. Ele começou com a melhor das intensões do mundo, Flea acreditou nele, sua amizade voltou a ser como nos velhos tempos, mas depois, Flea olhou para Hillel e viu que aquelas boas intensões haviam acabado denovo. Por incrível que pareça, quando isso aconteceu, foi com Anthony que ele foi falar.

Durante aquela turnê, ele estava sempre "doidão", e apesar de ter começado um novo relacionamento, Anthony estava tendo muita diversão com groupies e prostitutas de todos os tipos. A heroína não danificou sua vida sexual e agora que realmente era um rockstar de um certo grau (Uplift estava no número 143!), ele tinha a intensão de realizar suas mais sujas fantasias. Por exemplo, como ele não perceberia que uma garota, bonita e sexy estava olhando para ele?
Ele piscou para ela... e nada o impediria, nem mesmo o fato de Flea tê-lo chamado, dizendo que precisava falar com ele! Dane-se.
Oh, Anthony sabia do que Flea falaria. Com certeza era sobre Hillel. Anthony sabia que Flea não estava nada satisfeito com Hillel. Quam não sabia? Os Red Hot Chili Peppers tocaram no Fishbone e no TSOL, e todos perceberam que Flea e Hillel não estavam se falando. Mas Flea estava levando tudo a proporções exageradas. Estava sendo trágico demais. Agora que sua esposa estava grávida, ele estava virando um moralista! Foi exatamente assim quando Anthony foi tirado da banda, agora estava pensando em tirar Hillel também?

"Eu estive pensando nisso", admitiu Flea.
"Sim, amigão. tire todo mundo", disse Anthony, "Você vai acabar fazendo uma banda de um homem só".
Flea continuou: "Anthony, ontem Hillel tocou apenas uma música dorante a droga do show. Sempre a mesma música. Por um acaso, você percebeu isso?"
"Sim, eu percebi", disse Anthony.
"Mês que vem estaremos tocando na Europa", continuou Flea, "E no Japão. Será um período crucial para a banda. Podemos fazer isso com um guitarrista que mal sabe o que tocar?"
"Não, é claro. Será melhor sem guitarrista", debochou Anthony.
Flea fechou os olhos e preferiu ignorar o comentário daquele viciado. O idiota estava levando tudo pelo caminho do coração, quaria voltar a se divertir com as groupies e furar os braços.
"Eu não estou deixando essas coisas de lado", disse Flea, "E Jack está comigo. Para começar, eu acho que deveríamos contar à família dele".
"A mãe do Hillel me odeia", disse Anthony, rindo.
"Eu não estou pensando na mãe dele. Mas no seu irmão, James. Pelo menos ele
pracisa saber. Quando voltarmos à Euroupa eu vou procurá-lo e contar-lhe sobre isso.

Os dias vão se pasando e Hillel vai ficando cada vez pior. Agora, Anthony também estava preocupado. Hillel quase não falava com mais ninguém.

Pouco antes da turnê pela Europa, Hillel começou a ter sintomas de paranóia, ou talvaz ele estivesse apenas percebendo que seus amigos estavam se afastando dele.
"Se alguém há de falar com ele, deixe que esse alguém seja eu", disse Anthony em um de seus poucos momentos de mente limpa. Para sua surpresa, seus amigos concordaram. "Droga", pensou, "quando chega a hora de agir, todos fogem".

Claro que nada disso aconteceu. Anthony veio com um monte de desculpas misteriosas, no caminho para Damascus, ao lado de Angelo Moore, do Fishbone, que o parou enquanto andava devagar ao encontro de Hillel, para dizer que ele estava fora da banda.
"Não diga droga nenhuma a ninguém", falou ao Flea. "Isso não vai levar Hillel a lugar nenhum".

Milagrosamente, naquela noite, Hillel subiu no palco totalmente limpo e fizeram um grande show. A turnê na Europa começou sob um bom sinal.
"Eu estou limpo", disse Hillel para Anthony. "Você deveria tentar também".
"É claro, vou tentar", disse Anthony, e por um tempo, ele pensou nisso. Mas estava mais preocupado com a turnê, e decidiu que só entraria em um "processo de limpeza" estivesse de volta para L.A. Agora, só tinha uma única coisa na cabeça: A turnê pela Europa, que incluía Amsterdam e ele tinha a intensão de ir ao laboratório de Hank Schiffmacher, um grande tatto, conhecido como "Hanky Panky", e fazer a maior e mais bonita tatuagem, que ninguém pudesse imaginar! Hillel e Jack preferiram ir para Londres e memorial Jimi Hendrix. Apenas Flea estava triste, porque estava sentindo falta de Loesha. O bebê nasceria em outubro, e Flea adorava ficar perto de sua esposa. "Que chato!", disse Anthony, "Se isso é o que um casamento e paternidade fazem a uma pessoa, bem, estou fora por um bom tempo!"

A tour foi até o final de maio. A banda estava fazendo muito sucesso em todos os lugares por onde passavam. Amsterdam foi o ponto alto disso tudo: Anthony foi de sex shop em sex shop, e no de Hanky Panky, fez umas tatuagens muito bonitas: a face do Sitting Bull, no braço direito e um imponente totem nas costas! Hanky era um cara simpático, alto e magro, e falava de um jeito estranho, com um engraçado acento em tudo.

"Isso vai doer", disse Hanky, alertando antes de começar a tatuar suas costas. Anthony não ligou.
"Muito!", insistiu Hanky. Ele costumava ficar colocando medo em todos durante a operação.
"Vai valer à pena", disse Anthony rapidamente. Não era a primeira tatuagem que ele fazia, e com tante heroína em seu sangue, nada poderia machucá-lo tanto.
Anthony passou a tarde inteira no Hanky Panky. Eventualmente, Hanky secava o sangue com uma toalha. "Não acabou", disse Hanky, "Você terá de voltar aqui".
Anthony riu: "Yup! Talvez no ano que vem!".

Anthony saiu do laboratório e foi encontrar os outros Peppers, que estavam indo para o distrito da luz vermelha. Todos os três tinham belos sorrisos estampados nos rostos. Hillel sofreu com os sintomas da retirada de drogas no começo da turnê, mas agora parecia estar feliz.
"Então, ele está limpo, não está?", pensou Anthony, "Eu não deveria estar também?"

No dia seguinte eles iriam para Londres. A EMI estava para lançar um EP, seguindo os passos das boas vendas do Uplift, e Anthony já tinha uma idéia para a capa!

A história da capa do Abbey Road EP é bem conhecida: Os Chili Peppers em uma manhã de maio, foram atá aquala ultra-famosa faixa de pedestres da Abbey Road, tiraram suas roupas, colocaram as meias nos genitais e posaram para a câmera. Flea também usava um chapéu e meias (nos pés) e sapatos. Anthony, apenas nos genitais. O EP foi lançado no final de maio. Uma semana depois os Chili Peppers voltaram para L.A.
Uma daquelas noites, um roadie foi ver James Slovak e revelou: "Flea queria falar com você, mas acho que ele esqueceu. Seu irmão é um viciado em drogas. Você precisa ajudá-lo".
James, que até aquele momento não tinha a menor suspeita sobre aquilo, parou mudo. Mas ele também acreditou, sem nenhuma dúvida, que aquilo era a verdade.

No dia seguinte, foi ao encontro de Hillel: "Você está se drogando, não está?"
Hillel não negou: "Eu me droguei por anos. Mas agora acabou. Eu já não uso há algum tempo, e estou tomando remédios, indo ao médico. Então, por favor, não conte nada à nossa mãe nem ao nosso pai".
James queria acreditar nele.

Flea voltou para Loesha. Os últimos meses foram bem difíceis, mas os resultados estavam começando a aparecer: o Abbey Road EP estava indo muito bem e Michael Beinhorn estava esperando pela banda no estúdio, no final de junho, para começarem a trabalhar no sucessor do Uplift. Algumas músicas estavam prontas, os Chili Peppers já estavam tocando ao vivo há algum tempo, e elas mostravam clara influência de Hillel desenvolvendo sua capacidade para escrever músicas.

O único problema para Flea é que ele não conseguia segurar Anthony. Sua namorada não ajudava. "Nós quase não estamos nos vendo ultimamente", disse Ione Skye, "Eu estou gravando um novo filme e ele está sempre por aí, fazendo Deus sabe o que". Flea sabia muito bem o que significava "Deus sabe o que". Ele pensava se seu melhor amigo estava pronto ou não para sair da lama como Hillel estava fazendo.

Na noite do dia 25 de junho, Hillel ligou para seu irmão. Em poucos dias ele teria de encontrar os Peppers no estúdio, para começarem a trabalhar no novo álbum. Ele havia injetado feito louco, durante o dia inteiro. James falou algo sobre uma roleta russa, mas ele dificilmente ouvia. Estava somente pensando no que havia injetado mais cedo, antes da conversa. "Eu te amo, irmão", ele disse para James, e desligou. Pegou sua droga e foi para sua mesa, onde estava terminando um desenho, acendeu um cigarro, e dois segundos depois, parou de respirar para sempre.

Quando Flea ouviu o telefone tocando, no meio da noite, teve uma assustadora idéia do que era. Havia acabado de dormir. Aquela ligação certamente não era para dar-lhe boas notícias, isso era certo. Ele parou em frente ao telefone, antes de atender.
"Meu Deus", ele pensou, "Anthony morreu".
Naquele momento, Anthony estava na farra, como de costume, se divertindo de clube em clube, como todas as noites desde quando voltou para L.A. Por volta das 3:00 da madrugada, decidiu que estava na hora de ir embora, e começou a dirigir, completamente doido e bêbado, para casa. Na frente de sua casa, estava sua namorada, chorando e soluçando. Logo que ela o viu, começou a chorar ainda mais. Droga. Porque ela estava de pé agora?
"Minha namorada me vê e começa a chorar", pensou, "É lisonjeante".
Mas não, talvez haja alguma coisa. Talvez ela tenha sido tirada daquele filme idiota!
Bom! É sobre o tempo que ela estava gastando mais tempo dando importância para o filme do que para ele.
Anthony veio para perto dela, que começou a contar. Ela disse que Hillel estava morto. Ótimo. Ela estava ficanto completamente louca, com certeza. Que diabos Hillel tem a ver com isso tudo?
"Estou dizendo, Hillel está morto", Ione continuou, soluçando.
"E eu estou dizendo, você está falando um grande absurdo", disse Anthony, "Hillel morreu! Está louca. Não pode ser. Sem chances. Seria esmagador. Uma tragédia".

A tragédia havia acontecido, mas antes de Anthony se dar conta disso, muito tempo se passou. Depois disso, Anthony finalmente entendeu, mas não expressou nenhuma reação, porque em seu sangue haviam mais moléculas de heroína do que glóbulos vermelhos. O funeral aconteceu na manhã do dia 30 de junho, mas Anthony não foi. Depois de dois dias seguidos, injetando doses massivas de heroína para se manter fora da realidade, sua dura resistência estava se acabando, havia se partido em pedaços, e Anthony estava entre o nosso mundo e o outro.
"Algumas pessoas me odiaram por não ter ido ao funeral", disse Anthony em 1998, "Eles diziam, você era o melhor amigo dele e não estava lá. Bem, o fato era que eu estava morrendo também".
Quando toda a neblina se dispersou, a realidade reapareceu com todo o seu horror: seu melhor amigo estava morto e isso logo aconteceria com ele também.
"Àquela altura, eu me encontrei e tive de escolher", disse Anthony em 1992, "Eu poderia ir encontrar Hillel, ou eu poderia tentar juntar novamente os pedaços da minha vida".

A tentação para encontrar Hillel foi muito forte nos primeiros dias:
Anthony não conseguia ver outro caminho. Ele havia tentado se manter limpo, mas nunca conseguia. Tentou várias vezes, mas não funcionou. Era sempre uma batalha perdida. Ele nasceu como um viciado e teria de morrer assim também.
Mas depois de alguns dias, uma pequena esperança tomou forma. Talvez Hillel não queira que ele vá encontrá-lo. Talvez não fosse o seu destino dizer adeus aos 25 anos. Talvez ele pudesse ter aprendido alguma lição. Talvez ele tivesse de continuar tentando. Talvez. Se abandonasse tudo em seu caminho.

A primeira coisa a se fazer era abandonar Los Angeles e todas as pessoas que conhecia. Ele não queria ir para a casa de sua mãe, que certamente lhe daria um sermão que duplicaria o tamanho de seu saco. Não, ele queria ir para um lugar onde ninguém o conhecesse. O Centro de Reabilitação estava fora de questão no momento. Ele voltaria lá, mas não agora. Agora era hora de ir embora.
A idéia de se isolar em um vilarejo de pescadores, na costa de Baja Califórnia, no México, veio expontaneamente, enquanto estava dirigindo seu carro a algumas milhas de L.A., procurando um lugar para passar a noite. Aquela aldeia era muito bonita e pacífica, e na praia, haviam algumas cabanas que os pescadores locais alugavam, cobrando uma pequena mensalidade. Anthony alugou uma dessas cabanas, a mais distante do centro da aldeia, por um mês. Então, voltou ao centro, comprou muita comida e água, voltou para sua cabana, fechou a porta, e injetou seu último "ponto".
Quando voltou a ver a luz do sol, quase uma semana depois, Anthony estava deixando para trás seu medo de uma recaída e todo o seu passado, como o Grand Master, do Sacred Smack.
Ele e a heroína haviam terminado para sempre. Talvez.

Anthony não queria voltar para Los Angeles. Estava com medo, ele sabia que assim que pusesse os pés em Hollywood, poderia comprar uma nova dose. "Vou ficar limpo", disse Anthony para si mesmo, "Vou fazer isso por Hillel".
Anthony pensou que a primeira coisa a se fazer era recorrer a um psicólogo. O medo de uma crise de abstinência o deixou perturbado, e Anthony decidiu que tinha de voltar a tudo que costumava fazer. Ele tinha alugado uma cabana por um mês, era verão, estava totalmente sozinho, com o oceano a sua frente. Na mala do carro, encontrou vara e linha. Era hora de voltar à natureza.
"For um mês eu vivi naquela barraca na praia, e tudo o que fiz foi me limpar", disse Anthony, um ano depois.
Durante o dia, corria pela praia, nadava no oceano, ia pescar nas pedras. No final da tarde e durante o anoitecer, escrevia versos, poemas e letras para músicas imaginárias. Quando chegava a noite, eram os piores momentos. O sono não vinha e o fantasma de Hillel o seguia por toda parte. Se estivesse em casa, poderia ir até seu fornecedor e "ferrar" tudo; mas estava a milhas de distância de L.A. e naquele lugar fantástico, as pessoas usavam seringas apenas para injeções de antibióticos. Não tinha outra opção se não ficar acordado olhando para o teto.

Flat on my back
In a lonely sprawl
I stare at the ceiling
Because I can not fall
Asleep tonight
No not at all
Head lights flash
Across my bedroom wall
Crying eyes open
Because I can not fall
In love with you
No not at all

Anthony estava tentando não pensar tanto em Hillel. Ele se sentia furioso pelo que
fez, indo embora e o deixando pra baixo, sozinho com seus demônios.

Outros tempos ele passava agarrado um sentimento de vergonha, como se estivesse se considerando o culpado pelo que aconteceu com Hillel. Por que Hillel não o chamou naquela noite? Se ele estava indo se drogar depois de quase dois meses limpos, porque não lhe contou? Aquele idiota não sabia que não se pode usar a mesma dose que se está acostumado, depois de ficar tanto tempo limpo? Apenas uma maldita ligação poderia ser o bastante, não para James, mas para ele, Anthony! Hillel deveria ter ligado para ele, "Hey, Swan, estou me espetando feito um filho da puta, porque você não vem aqui com umas boas substâncias, eu te devolvo amanhã". Eles poderiam ter se drogado juntos, Anthony poderia sugerir a Hillel a dose certa, e mesmo se ele não aceitace, Anthony o impediria. Mas não, aquele idiota fez tudo sozinho. E Anthony era o responsável por isso, porque ele e Flea tinham ficado muito frios com Hillel nos últimos meses, com aquela maldita cisma de que ele estava drogado demais para tocar. E Hillel não o considerava mais tão confiável, por isso não telefonou naquela noite. E agora, Hillel estava morto. Estava claro que a culpa era dele, não estava?
Claro que sim. Droga.
Droga, droga, droga. Droga.
E não vai se drogar nunca mais.

Não era menos duro quando Anthony pensava no Red Hot Chili Peppers. Ela não tinha a menos idéia do que seria da banda. Para ele, Chili Peppers sem Hillel não fazia sentido, a banda não poderia existir sem ele. Todos se lembravam do que aconteceu durante o ano em que Hillel e Jack estavam ocupados com o What Is This.
"Talvez possamos chamar o Jack Sherman!", debochou Anthony consigo mesmo.

Flea também não conseguia pensar na banda. Estava se sentindo envergonhado, não com a morte de Hillel, mas com o comportamento que estava tendo para com o amigo durante o último ano. "É algo que eu sempre terei, remorso dos meus amigos que morreram de overdose, eu não ficava ao lado dels quando precisavam de mim, eu ficava furioso com eles", disse Flea em 1999. Também estava ficando louco por não ter a menor idéia do paradeiro de Anthony. Tudo o que Flea sabia era que ele havia deixado L.A. alguns dias após a tragédia. E depois? Estaria ele morto também? Jack deixou o funeral enigmático, resmungando que "Hillel foi apenas o primeiro". Ninguém sabia onde Anthony estava.

Ione Skye disse para Flea: "Eu acho que ele está se limpando em algfum lugar, mas não me disse para onde foi. Acho que ele quer ficar sozinho".
Droga. Loesha estava entrando no oitavo mês, um de seus melhores amigos estava morto e o outro parecia ter sumido da Terra. Alguém poderia suportar tamanha pressão? E Jack, por que Jack não atendia mais suas ligações?

Anthony voltou para Los Angeles no dia 1º de agosto, e depois de uma noite matando as saudades de sua namorada, foi procurar Flea. Quando Flea o viu no portão, parou, totalmente incrédulo: seu melhor amigo parecia ter nascido novamente. Depois de um mês sob o sol de Baja California, correndo na praia, nadando no oceano, Anthony estava em plena forma. As linhas sob seus olhos se foram. Foi-se também o olhar vazio. "Você esta limpo, não está?", perguntou Flea.
Anthony disse que sim, e que estava muito feliz. "Vou ficar limpo até morrer".
Flea queria acreditar. Ele tinha de acreditar. Anthony perguntou o que aconteceu
enquanto esteve fora. Flea falou sobre seus amigos, sobre como reagiram à morte de Hillel, mas não falou que ele, Jack e Lindy Goetz tinham pensado que Anthony não voltaria mais e talvez tivessem começado a procurar por um novo vocalista.
Então, Flea falou sobre o bebê que ia nascer em dois meses.
"Hillel me disse que será uma menina", disse Flea, "e agora, achamos que ele estava certo".
Flea só hesitou quando Anthony perguntou por Jack.
"Onde está Jack?", disse Anthony, "Quero ir vê-lo e dizer oi". "Mmmm, eu não acho que seja uma boa idéia", disse Flea.
"Oh, porquê não?", perguntou Anthony sem entender, "Ele se foi também?"
"Sim, quero dizer, não. Jack.. ele não esteve muito bem ultimamente. Seus
familiares me pediram para deixá-lo sozinho".
"Sério?", disse Anthony, "Jack Irons. Por que? Ele está tão mal?"
"Acho que sim", admitiu Flea, "Sua família o internou em um hospital. Um hospital
psiquiátrico".
"Ok, vejamos o que temos aqui", disse Lindy Goetz, irritado. "Um integrante morto, um ficando louco e outro indo para um centro de reabilitação. Algo a declarar,
Flea? Herpes?
"Anthony está muito bem, Lindy, você precisa vê-lo, é um novo homem", disse Flea.
"Hum, tudo bem", Goetz foi. "Então, temos dois de vocês, certo? Acho que Jack
não voltará, vai?"
"Não, acho que não. Se alguém falar no nome da banda ele começa a ter ataques".
"Tudo bem, certo, não queremos que ninguém tenha ataques", disse Goetz. "Então, temos um baixista e um vocalista. Ótimo. Esses são os Red Hot Chili Peppers. Não sei porque, mas eu tenho a impressão de que isso já aconteceu antes".

Blackie insistia muito para que Anthony fosse para a clínica de recuperação. Ele via que seu filho estava totalmente limpo, talvez, pela primeira vez depois de doze anos, mas não acreditava na "desentoxicação doméstica". Anthony precisava de uma boa terapia. Anthony aceitou ir para o centro de reablitação, não como um interno, mas como um paciente. Começou um sério tratamento.
Também poderia voltar para as sessões de acupuntura. Talvez seu pai estivesse certo, ele não poderia ir muito longe sozinho.

"Estou fazendo tudo o que ajude ex viciados na recuperação", disse em 1990.
"Não posso fazer isso sozinho. Hillel tentou se limpar sozinho e morreu".
Sua relação com Ione passou a ter bases bem mais sólidas. Ela estava gravando um filme com John Cusack e Anthony tinha parado de passar as noites nos clubes. Ficava em casa, brincando com o cão e assistindo os filmes favoritos de sua namorada. Anthony resolveu ser mais forte do que tudo. Baniu todas as drogas, não apenas a heroína, mas o álcool também. Apesar de ser difícil e doloroso ficar longe de sua amada cerveja, Anthony sentia que precisava fazer isso. Assim, tornou-se um expert em todos os tipos disponíveis de água mineral.

Naquele momento, Flea começou a olhar em volta. Não necessariamente para encontrar os substitutos de Hillel e Jack, mas apenas para tocar e se divertir. Flea sempre teve uma boa relação com os fãs da banda, conheceia pessoalmente alguns deles e com eles, tocava de vez em quando. Ele ficava em casa durante aqueles dias, esperando Loesha ter o bebê e em seu porão, tinha um pequeno estúdio de gravação. Amigos e fãs iam lá tocar, e entre eles, um que estava lá na maioria das vezes, um garoto franzino, magro, com jeito de punk, com quem Flea já tocava antes da morte de Hillel. Flea costumava dizer que era o maior fã dos Red Hot Chili Peppers que já havia pisado na Terra. Seu nome? John.

FIM DO CAPÍTULO 5